Silêncio insistente em casa. O rádio que costuma ficar sintonizado na 107,5 está desligado. Céu cinzento de dia chuvoso, carregado. Observo minúsculas formigas subindo pela minha camiseta branca. Não sei de onde vêm.
O silêncio não incomoda, o som das gotas tocando as folhas no jardim de inverno acalma.
Pensamento atravessa. Em algum lugar uma família está colocando baldes no chão pra conter as goteiras que teimam em formar pequenas lagoas dentro de casa.
A solidão silenciosa não é incômoda, não é angustiante. Tenho a companhia das gatas que ensaiam miados assemelhados ao pranto, talvez sentindo falta dos carinhos do tutor.
A chuva aperta, abro um vinho e encho uma taça.
Meu chefe deseja feliz ano-novo por mensagem de texto e diz que na próxima semana minha presença é esperada na agência, a concorrência. Tenho vontade de pedir demissão e penso nas pessoas que sofrem e não podem simplesmente quitar.
Aceito sem contestar e nos despedimos. Ainda não sei que em oito meses serei demitida.
A chuva torrencial disparou o alarme da casa vizinha e a luz acabou.
As formigas insistem em aparecer não sei de onde, abrem caminho sobre a minha roupa. Caminham em fila indiana.